As referências ao mestre francês

Por que Kardec é chamado de codificador?

Pergunta enviada por Lílian R. Mendonça, Cascavel, PR

Trata-se de pergunta aparentemente simples, mas uma busca mais aprofundada gerou inúmeros levantamentos, como seguem abaixo:

A palavra 'codificar' vem do francês codifier. Codificar significa, segundo o Houaiss: 1 - reunir numa só obra textos, documentos, extratos oriundos de diversas fontes; coligir, compilar; 2 - reunir em código. Mas daí vem a pergunta: o que Kardec juntou, reuniu?

Justamente o fruto de sua pesquisa. De início, apenas como curiosidade pessoal, querendo entender o que havia por trás do fenômeno das mesas girantes; depois, algo que se transformou num trabalho metódico e lógico para desvendar e divulgar de forma filosófica e organizada a existência do espírito. Kardec foi, portanto, muito mais do que um codificador. Foi um pensador, um cientista.

Sabe-se que o termo 'codificador', para qualificar Kardec, foi consolidado no Brasil. Na Europa, ele era mais conhecido como fundador do Espiritismo. É assim, aliás, que está em sua lápide no formato de dólmen, em Paris: fundador do espiritismo.

Segundo o pesquisador Eugênio Lara, quem popularizou essa expressão no Brasil e América Latina foi provavelmente Carlos Imbassahy, em seu livro Missão de Allan Kardec, publicado em 1957. Mas ele adverte: "Seria preciso uma pesquisa mais apurada e rigorosa nos periódicos espíritas e não espíritas do final do século 19 e início do século passado. No final do século 19, o grupo de Torteroli referia-se a Allan Kardec como o fundador do espiritismo, fundador da ciência espírita etc. Isso pode ser conferido nos jornais diários da época. Para se ter certeza, seria necessária uma comparação terminológica entre a revista Reformador, cujo redator por muitos anos foi Carlos Imbassahy, e a Revista Espírita do Brasil, cujo editor-gerente era o Affonso Angeli Torteroli".

Ainda não sabemos ao certo quem foram os espíritas que introduziram essa expressão para se referir a Kardec. Recentemente, alguns pesquisadores da Lihpe (Liga de Pesquisadores do Espiritismo), com ajuda da FEB e outros estudiosos, levantaram os seguintes dados. Em edições antigas da revista Reformador (1883 a 1907), foram encontrados termos como fundador, mestre e missionário, em referência a Kardec. Somente em 1908, dois artigos assinados por Vianna de Carvalho utilizavam os termos 'codificando' e 'codificador', conforme transcrições abaixo:
"Allan Kardec, codificando tão admiravelmente o ensino dos espíritos, precisara de modo irrefutável a existência de um princípio intermédio que, servindo como meio de transição entre o corpo e a alma, completa a synthese do ser humano em suas mínimas particularidades." (Reformador, fevereiro de 1908, "Caracteres funcionais do perispírito")
"Reformador, março de 1908, p. 108, Coluna: Colaboração, Título: 'Humilde Apologia', Subtítulo: 'A Allan Kardec, venerado Mestre e excelso codificador do Espiritismo'."

Mas há também algumas referências mais antigas, em francês, como a seguinte, do livro O fenômeno espírita (1893), de Gabriel Delanne:
"Em vez de apresentar aos incrédulos toda a doutrina formulada pelos Espíritos e codificada por Allan Kardec (...)". No original: "Au lieu de présenter aux incrédules toute la doctrine formulée par les Esprits et codifiée par Allan Kardec (...)".
Em nova consulta do Correio Fraterno sobre o assunto, a FEB respondeu o seguinte, em 23/9/2013, através de José Carlos da Silva Silveira:
"Diz-se que Kardec é o codificador do espiritsmo porque o seu trabalho foi o de reunir, compilar e sistematizar os ensinos dos Espíritos. Na verdade, ele mesmo não se atribuiu esse título. No livro Allan Kardec, o educador e o codificador, Zeus Wantuil e Francisco Thiesen (volume I, capítulo I, item 1) dizem o seguinte: 'Embora houvesse, em 1858 (RS, p 206), declarado que 'as mesas girantes são como a maçã de Newton, que, na sua queda, encerra o sistema do mundo', o fato de ele ter sido o sistematizador não lhe subiu jamais à cabeça, pois declinou da honra de ter fundado o espiritismo. Em 1861, aspirava apenas ao 'modesto título de propagador.' (RS, p.7). Nada obstante, em Obras Póstumas (Projeto 1868), ao falar do "desenvolvimento teórico da doutrina e os meios de popularizá-la", ele se atribui o título de fundador da teoria, quando diz, referindo-se a si mesmo: 'Ora, creio que seria conveniente que aquele que fundou a teoria pudesse ao mesmo tempo impulsioná-la, porque então haveria mais unidade'. Assim, Kardec fazia diferença entre ser fundador do Espiritismo e fundador da teoria espírita. Quanto aos termos 'codificador' e 'codificação', têm origem, ao que parece, no próprio movimento espírita, ao que tudo indica, no Brasil. Seria interessante, do ponto de vista histórico, que se descobrisse quando foram as expressões 'codificador' e 'codificação' usadas pela primeira vez e quem as introduziu."
A pesquisa, portanto, continua em aberto.

 
(*) Colaboraram na pesquisa Alexandre Caroli Rocha, Herivelto Carvalho e Eugênio Lara.


Publicado no jornal Correio Fraterno - edição 453 - setembro/outubro 2013

Fonte: Correio Fraterno

 

 

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