O Descobridor de Chico Xavier

Quintão introduziu Chico Xavier na FEB

Dados biográficos Neste ano transcorrem 140 anos de nascimento (Valença, RJ, 28 de maio de 1874) e 60 anos de desencarnação (Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1954) de Manuel Justiniano de Freitas Quintão.

Foi o 8o, 10o e 15o presidente da FEB, com mandatos, respectivamente, nos anos: 1915, 1918 a 1919 e 1929. Membro do quadro de sócios e colaborador da FEB durante 44 anos, sendo várias vezes vice-presidente, diretor do Grupo Ismael, da Livraria e de Reformador. Colaborou com esta revista escrevendo a seção “Casos e coisas”. Jornalista, autor de livros em prosa e verso, tradutor, orador, portador de dons musicais.

Escreveu para vários jornais e revistas da época. Visitou várias vezes Chico Xavier em Pedro Leopoldo, tendo sido o responsável pela publicação de Parnaso de além-túmulo, pela FEB, em 1932.1 Em 16 de maio de 1939 escreveu a sua própria biografia e deixou-a em envelope fechado, a fi m de que fosse publicada em Reformador, quando da sua desencarnação. Nela, Quintão comenta sobre sua fi liação, os desejos de servir à Marinha, a definição paterna para que se mudasse para Belém do Pará, a fim de colaborar com o tio na “Chapelaria Quintão”, seu retorno em 1890 para trabalhar em escritório comercial no Rio de Janeiro.

Relata seu casamento, em Vassouras, com Alzira Capute, com quem teve onze filhos. Sempre interessado pelas letras, anotou: Haeckel e Buchner, Voltaire e Renan, Rousseau, Zola, Junqueiro, eram meus ídolos. Foi nessa altura que, maltratado da sorte, envenenado de corpo e alma, comecei a derramar na imprensa a vasa de minhas ideias.
Artur Azevedo, nunca o esqueceria, foi, sem o saber, o meu animador.

[...] Nessa altura, gravemente enfermo e desenganado pela medicina oficial, depois de esgotar todos os recursos e a pique de cair na indigência é que fui levado a tentar a terapêutica mediúnico-espiritista. Este episódio, contei-o na conferência que, em 1921, pronunciei a propósito das materializações assistidas pouco antes, no Pará, publicada com o título de Fenômenos de Materialização.

[...] Na Federação, onde milito desde 1903, sem embargo do premente labor comercial,sempre mantive, com integridade de consciência evangélica, o exercício da mediunidade curadora.
[...] convicto de que aí, na Casa de Ismael, em que pesem falhas humanas, está defi nitivamente traçado o roteiro da humanidade futura [...]2
Indalício Mendes conheceu Quintão na livraria da FEB e assim o descreveu:
[...] Quintão chegava mansamente, humilde, a doçura refletida no olhar melancólico, a completar a bondade do semblante simpático. Saudava discretamente as pessoas presentes e, com desvelos paternais, passeava os olhos pelas estantes [...] Como amava os livros![...]3

“Descobridor” de Chico Xavier

Manuel Quintão, como vice-presidente da FEB, conheceu e recebeu do jovem médium Chico Xavier os originais psicografados que geraram Parnaso de além-túmulo, lançado pela FEB Editora em julho de 1932. E registrou no prefácio da obra citada: “[...] o médium Xavier, um quase adolescente, sem lastro, portanto, de grande cultura e treino poético [...] é rapaz de 21 anos, um quase adolescente [...]”.4 E o médium anotou em Palavras minhas: “[...] e ainda o carinhoso interesse do distinto confrade Sr. M. Quintão, que tem sido de uma boa vontade admirável para comigo, não poupando esforços para que este despretensioso
volume viesse à luz da publicidade”. 5
Fato histórico interessante foi o primeiro encontro de Clóvis Tavares com Chico Xavier, que
vieram a ser grandes amigos. Ocorreu na sede da FEB, no Rio de Janeiro, no dia 12 de junho de 1936.
Para surpresa do visitante, o jovem médium estava à mesa e se pôs a psicografar poema de João de Deus e mensagem de Emmanuel, as quais foram lidas pelo presidente da sessão, Manuel Quintão.6
Quintão resume os relatos sobre significativa visita que empreendeu a Pedro Leopoldo e região, nos idos de 1938.7 Define o objetivo da publicação:

Impressões de viagem e apontamentos doutrinários colhidos entre e para confrades com olhos de ver, ouvidos de ouvir e coração de sentir e… perdoar.
Porque aqui, mais que o cérebro, trabalha o coração. [...]
Que o leitor nos perdoe a digressão.
É que, “Pedro Leopoldo” é o berço de “Chico Xavier”, o médium de Parnaso de além-túmulo, de Emmanuel, de Pátria do Evangelho, enfim de toda uma floração doutrinária, maravilhosa de ideias e fecunda de graças, e merece, portanto, esta apologia [...]7

Numa das reuniões, “o médium que nunca foi poeta, dá-nos de improviso, currente calamo, sem uma vacilação, sem uma rasura, [...] lindo soneto de Bittencourt Sampaio, no qual se alumbra e freme o estro do mago autor da Divina epopeia”:7 e Chico psicografa o soneto Ave Maria . Quintão e um grupo visitaram também o Centro Espírita Bittencourt Sampaio, na vizinha cidade de Sete Lagoas, onde o mesmo Espírito citado escreveu o poema Súplica. Ao final da viagem, e também acompanhado de Chico Xavier, estiveram na União Espírita Mineira, onde foram recepcionados por Cícero Pereira e Noraldino de Castro.

Na oportunidade, o médium psicografou o soneto Oração, do Espírito Bittencourt Sampaio. Entre os episódios históricos registrados por Quintão, destaca-se o diálogo, numa noite, na Fazenda Modelo. Liam-se trechos do romance Herculânum,8 de Rochester, traduzido por Manuel Quintão em 1937:

[...] vamos transcrever a curiosa mensagem que o anfitrião recolhera num dos seus serões íntimos, quando lia e comentava Herculanum, o precioso romance mediúnico do Conde Rochester, por nós traduzido. Neste comunicado, há dois pontos importantes a considerar: o primeiro, é que não se trata de uma obra de ficção, qual se poderia presumir e o segundo, é que Emmanuel, este luminar da Espiritualidade renovadora dos nossos tempos, promete-nos para breve o romance da sua própria vida na Terra, ao tempo de Jesus, quando se chamou Publius Lentulus, altaneiro patrício romano.9

Emmanuel escreve significativa mensagem corroborando informações de Herculânum e anuncia: “‘Algum dia, se Deus mo permitir, falar-vos-ei do orgulhoso patrício Publius Lentulus, a fi m de vos edificardes nas dolorosas experiências de uma alma indiferente e ingrata’”.10
Trechos desta mensagem obtida no dia 7 de setembro de 1938 foram introduzidos na apresentação de Há dois mil anos.10 Há vários episódios relacionados com Quintão e Chico
Xavier, relatados em Cinzas do meu cinzeiro11 e Lindos casos de Chico Xavier.12 Ambos registram a visita surpresa que Chico Xavier fez a Quintão, no dia 18 de abril de 1947:

[...] Chico Xavier viajou a serviço de Pedro Leopoldo para Juiz de Fora e porque não nos víamos havia três anos aproveitou o ensejo para uma surpresa de arromba. De arromba, porque me chegou a penates às 22 horas, debaixo de chuva. [...]
Candura do Chico! – Vamos, então, “bater papo” toda a noite, enquanto chove grosso lá fora. Mesa posta, café, biscoitos e um mundo de ideias, comentários, recordações. [...]12

Ao fi nal, Chico psicografou o poema Ave Maria, de Braga Neto.
Certa feita Chico desabafou, em carta a Quintão, sobre seu estado de alma, de sonho com um lar. E recebeu a orientação de um orientador espiritual: “[...] procure viver não apenas para uma pessoa, mas sim para muitos”.12 Sua irmã Geralda relatou a Ramiro Gama: “[...] ele não é nosso irmão apenas. Foi, tem sido e é: – a nossa mãe”.12 A irmã de Chico, Maria Geralda Xavier, era casada com o filho de Quintão, o músico Pedro, e viveram em Belo Horizonte.

Casos e coisas

Com esse título Quintão manteve uma seção, durante muitos anos, na revista Reformador.
Aproveitamos a sugestão para lembrar comentários e contribuições do ex-presidente da FEB. No Prefácio de Cinzas do meu cinzeiro, 11 Carlos Imbassahy comenta a atuação de Quintão como polemista e enaltece a obra: “As Cinzas do meu cinzeiro é obra sui generis. Não vimos, ainda, outra que se lhe assemelhasse. É uma história em retalhos; são crônicas históricas. É a revivescência de casos, de homens e de costumes, na Capital e em pontos onde esteve o Autor. [...].11

Quintão relata também sua apreciação sobre lidadores da FEB como Leopoldo Cirne, Viana de Carvalho, Pedro Richard, Antonio Lima, Albino Teixeira, Geminiano Brazil, Inácio Bittencourt, Amaral Ornellas, Aristides Spínola, Guillon Ribeiro, e de outros Estados como Batuíra e José Petitinga. O centenário de nascimento de Allan Kardec, na sede da FEB, em 1904, e, vários casos do Grupo Ismael, da FEB.
Relata seu contato com Casimiro Cunha, em Vassouras. Quintão proferiu uma marcante conferência no auditório da FEB, no dia 21 de abril de 1921, que foi transcrita pela revista Reformador,13 a qual posteriormente enfeixada no seu livro Fenômenos de materialização14 e em recente obra editada, pela FEB, sobre a médium Anna Prado.15
A questão da mediunidade aparece, algum tempo depois, com o importante subsídio que elaborou, o “Abecedário do Médium”, preparado quando era delegado do Conselho Federativo da FEB, o qual foi adotado pela Comissão Organizadora dos trabalhos deste Conselho, tendo como pareceristas: Codro Palissy, Pedro de Camargo, Epiphanio Bezerra e José do Sacramento. A conclusão deste parecer foi aprovada sem debate, pelo Conselho, na sessão de 7 de outubro de 1926.14 Um aspecto sempre considerado por Quintão foi o religioso.

Referindo-se ao imperador Constantino, cita o padre Alta (Le christianisme cesaréen), sacerdote e doutor da Sorbonne: “[...] a conversão do Imperador não converteu o Cesarismo, mas perverteu o Cristianismo”.14

REFERÊNCIAS:
1 CARVALHO, Antonio Cesar Perri. Presidentes da FEB. Reformador, ano 132, n. 2.221, p.195-199, abr. 2014.
2 QUINTÃO, Manuel. Manuel Quintão. Reformador, ano 73, n. 1, p. 7(11)– 8(12), jan. 1955.
3 ____. O Cristo de Deus. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Prefácio. p. 9-10.
4 ____. À guisa de prefácio. In: XAVIER, Francisco Cândido. Parnaso de além-túmulo. 19. ed. Rio de Janeiro: FEB. 2010. p. 24-25.
5 XAVIER, Francisco Cândido. Parnaso de além-túmulo. Palavras minhas. 19. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. p. 35-36.
6 TAVARES, Clóvis. Trinta anos com Chico Xavier. 4. ed. Araras: IDE, 1987. p. 41-43.
7 QUINTÃO, Manuel. Romaria da graça. Rio de Janeiro: FEB, 1939. p. 1, 7 e 9.
8 ROCHESTER, John Wilmot (Espírito). Herculânum. Obtido pela sra. W. Krijanowsky (médium mecânica). Trad. Manuel Quintão. 11. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011.
9 QUINTÃO, Manuel. Romaria da graça. Rio de Janeiro: FEB, 1939. p. 20-21.
10 XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Há dois mil anos. 49. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2013. p. 7.
11 QUINTÃO, Manuel. Cinzas do meu cinzeiro. Curitiba: Livraria da Federação Espírita do Paraná, 1952. p. 15.
12 GAMA, Ramiro. Lindos casos de Chico Xavier. 19. ed. São Paulo: LAKE, 2000. p. 91–92, 114–115.

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Fonte: Revista Reformador

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