Frederico Pereira da Silva Júnior - O médium da primeira hora do Espiritismo no Brasil

O médium da primeira hora do Espiritismo no Brasil

Paulo de Tarso Rocha e Ricardo Silva

Há 100 anos, no dia 30 de agosto de 1914, no Rio de Janeiro, retornava ao plano espiritual Frederico Pereira da Silva Júnior, dedicado trabalhador da Federação Espírita Brasileira e valoroso médium, por meio do qual foram transmitidas importantes mensagens psicofônicas e psicográficas que muito auxiliaram os trabalhadores da Casa de Ismael naquela delicada fase inicial da implantação do Espiritismo no Brasil.

Pedro Richard, notável servidor da Casa-Mãe do Espiritismo e amigo de Frederico Júnior durante 32 anos, em artigos publicados em Reformador nos anos de 1914 e 1916,1 afirma que a vida desse médium “foi muito mais acidentada e grandiosa do que a de Madame D’Esperance, contada por ela própria em seu livro No país das sombras”. Frederico Pereira da Silva Júnior nasceu em 1857, no Rio de Janeiro, e cresceu em meio a humildes operários, resistindo às tentações da vida boêmia, tão comuns àquela época. De personalidade dócil, era considerado um homem bom, querido por seus amigos e colegas de trabalho, sempre disposto a auxiliar.

Estudou pouco e teve escassa formação cultural, mas possuía grande inteligência e, profissionalmente, trabalhou como servidor público da Repartição Geral dos Correios.

Casou-se, ficou viúvo e tornou a consorciar-se. Teve filhos nos dois casamentos. Seu primeiro contato mais direto com o Espiritismo ocorreu em 1878, quando tinha 21 anos e resolveu visitar a Sociedade Espírita “Deus, Cristo e Caridade”, a convite de seu padrinho, na esperança de obter informações de uma pessoa querida.

Uma vez lá, Frederico Júnior foi envolvido espiritualmente e atuou na reunião por meio da psicofonia sonambúlica, uma de suas várias especialidades mediúnicas, entre as quais também se incluíam a clarividência, a clariaudiência, a psicografia, os efeitos físicos e a mediunidade de cura. Após o despertar de suas faculdades psíquicas, atuou de 1878 a 1880 na Sociedade Espírita “Deus, Cristo e Caridade”, e, de 1880 a 1882, na Sociedade Espírita Fraternidade, mas exerceu a maior parte do seu mandato mediúnico no conhecido Grupo Ismael, da Federação Espírita Brasileira, no qual totalizou 34 anos de atividades ininterruptas, até sua desencarnação.

Na Casa Máter do Espiritismo, conviveu estreitamente com os valorosos trabalhadores da primeira hora da implantação do Cristianismo Redivivo no Brasil, quais sejam, Bezerra de Menezes, Antônio Luiz Sayão, Francisco Leite de Bittencourt Sampaio e Pedro Richard, entre outros.

Bezerra de Menezes, pela mediunidade preciosa de Yvonne Pereira, no livro A tragédia de Santa Maria,2 editado pela FEB, atesta os raros e preciosos dons psíquicos de Frederico Júnior:

Por esse tempo, existia na capital do País um médium portador de peregrinas qualidades morais e vastos cabedais psíquicos, que dele faziam, sem contestação possível, um dos mais preciosos e eminentes intérpretes da Revelação Espírita no mundo inteiro, em todos os tempos. Encontrava-se ele no apogeu das suas atividades espíritas-cristãs, pois desde doze anos antes abrira aos ósculos da intervenção espiritual sua organização mediúnica, transmitindo do Invisível para o mundo objetivo caudais de luzes e bênçãos, de bálsamos e ensinamentos para quantos dele se aproximassem sequiosos de conhecimentos e refrigérios para as asperidades da existência. Chamava-se ele — Frederico Pereira da Silva Júnior, amplamente relacionado e mais conhecido com a singela abreviatura de — Frederico Júnior. Tão nobre obreiro da Seara Cristã repartia-se em múltiplas modalidades de serviços mediúnicos, dedicado e fraterno até à admiração, porquanto seus dons psíquicos, variados e seguros, obtinham também, do Além-túmulo, as mais lúcidas revelações, relatando para os interessados empolgantes realidades espirituais.2

As sinceras observações de Bezerra de Menezes decorreram da grande convivência que teve, quando encarnado, com Frederico Júnior, por meio do qual recebeu várias orientações espirituais de Ismael, de Celina, a emissária de Maria de Nazaré, e de outros Espíritos atuantes na implantação do Espiritismo no Brasil, entre eles Santo Agostinho.

A estreita afinidade entre Bezerra de Menezes e Frederico Júnior facilitou, inclusive, que o inesquecível presidente da Federação Espírita Brasileira, 24 horas depois da sua desencarnação, utilizasse o referido medianeiro para, em reunião do Grupo Ismael, trazer suas impressões do retorno ao plano espiritual, consolando e incentivando os companheiros encarnados:3

Na noite de 12 de abril de 1900 às sete horas, houve a habitual sessão na Federação Espírita Brasileira. Então todos os que dela participavam ouviram, pela maravilhosa mediunidade sonambúlica de Frederico Pereira da Silva Júnior, a palavra querida do Espírito do nosso Bezerra de Menezes.

Sua mensagem foi longa, e nela mais de uma vez, humildemente, agradeceu a Deus, a Jesus e à Virgem Santíssima as bênçãos divinas que misericordiosamente recebia na pátria espiritual, pois se considerava ainda muito pecador e, portanto, indigno desse sagrado amor de Jesus!3

Importante, ressaltar, nesta oportunidade, fato pouco conhecido pelos espíritas atuais: entre as várias comunicações de Allan Kardec, ditadas por meio da mediunidade segura de Frederico Júnior, há específica orientação aos trabalhadores do Movimento Espírita brasileiro, cuja relevância é reconhecida na obra Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho.4

Imprescindível ressaltar o trecho dessa obra, de autoria do Espírito Humberto de Campos, que focaliza o esforço de Ismael, o Anjo Guardião do Brasil, na unificação dos espíritas brasileiros:

O abnegado mensageiro do Mestre, começando o movimento de organização nos primeiros dias de 1889, preparara o ambiente necessário para que todos os companheiros do Rio ouvissem a palavra póstuma de Allan Kardec, que, por meio do médium Frederico Júnior, forneceu as suas instruções aos espiritistas da capital brasileira, exortando-os ao estudo, à caridade e à unificação.

Bezerra de Menezes, que já militava ativamente nos labores doutrinários, recebeu a palavra do Alto com a alma fremente de júbilo e de esperança, e considerou, no campo de suas meditações e de suas preces, a necessidade de se reunir a família espiritista brasileira sob o lábaro bendito de Ismael, a fim de que o mundo conhecesse o Cristianismo restaurado. [...]4

Francisco Leite de Bittencourt Sampaio, notável trabalhador da Casa de Ismael e Espírito de elevada hierarquia, valeu-se de Frederico Júnior para, do Além, transmitir as belíssimas obras Jesus perante a cristandade, Do calvário ao apocalipse e De Jesus para as crianças, entre outras.

Pedro Richard, nas páginas de Reformador dedicadas à biografia de Frederico Júnior, afirma que muitas e intensas foram as lutas enfrentadas por esse dedicado médium e trabalhador, “verdadeiro soldado de Jesus”, nas palavras do biógrafo.

Este dedicado servidor da Casa de Ismael enfrentou grandes desafios com os quais defrontam os médiuns que se dedicam integralmente ao mandato mediúnico. Pode-se destacar, entre seus vários testemunhos pessoais, a resistência hercúlea às ideias suicidas que lhe assaltavam constantemente a mente.

Todavia, em meio às severas provas que sofreu, Frederico Júnior contou sempre com o apoio inquestionável dos emissários do Plano Maior a lhe confortarem o coração sensível, seja por intermédio dos amigos incansáveis que o amparavam, como Pedro Richard e Bezerra de Menezes, seja pelas atividades caritativas em que sua alma se fortalecia ao amparar o próximo.

Sua desencarnação é tocante.

Em 31 de agosto de 1914, Frederico Júnior, que lutava há tempos contra a tuberculose, possuidor de fé inquebrantável, reúne os familiares e profere sentida prece dedicada a Maria de Nazaré. Ao terminar a oração, retorna ao plano espiritual, de forma serena.

Ouçamos Pedro Richard:1

Após dolorosa enfermidade, Frederico Júnior, sem uma queixa e achando que justo era seu sofrimento, desencarnou. Deixou fotografado no éter um belo quadro que traduz bem a grandeza de seu espírito e a pureza de sua crença. Quero me referir ao que passou nos seus últimos momentos:

Reunindo a família, ora ele próprio uma Ave Maria, e ao terminar a sublime prece, seus lábios emudecem; cerram-se as pálpebras e seu espírito ala-se aos páramos celestes. É assim que desencarnam os filhos de Maria.1

Como sói acontecer com os incansáveis trabalhadores de Jesus, Frederico Júnior prossegue, do Plano Maior, em amplas atividades ligadas à difusão do Cristianismo Redivivo, conforme se pode conferir no relato constante do livro Voltei, assinado pelo Espírito Irmão Jacob, editado pela FEB, no subcapítulo Assembleia de fraternidade.5

Em julho de 2011, na comemoração dos “150 de O livro dos médiuns”, realizada na Sede Histórica da FEB, na Avenida Passos, o médium Divaldo Franco relata a presença deste valoroso amigo espiritual junto a vários outros companheiros da seara.

Sigamos seu exemplo de persistência, dedicação e amor, horando o lema de Ismael: “Deus, Cristo e Caridade”.

REFERÊNCIAS:
1 RICHARD, Pedro. Frederico Pereira a Silva Júnior. Reformador, ano 32, n. 18, p. 299 a 302, 16 set. 1914; n. 19, p. 318 a 320, 1º out. 1914. Ver também RICHARD, Pedro. As revelações são sucessivas e gradativas – pt. I, II, III e IV, Reformador, ano 34, n. 21, 22, 23 e 24, p. 348 a 350, 365 a 368, 380 a 383, 395 a 397, nov.-dez. 1916; pt. V e VI, ano 35, n. 1 e 3, p. 24-25, 40 a 42, jan.-fev. 1917, espectivamente.
2 PEREIRA, Yvonne A. A tragédia de Santa Maria. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. 13. ed. 4. Reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. pt. 4, cap. Quando o céu se revela…, p. 247-248.
3 SOARES, Sylvio B. Vida e obra de Bezerra de Menezes. 13. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. p. 117.
4 XAVIER, Francisco C. Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho. Pelo Espírito Emmanuel. 34. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2014. cap. 28, p. 171- 172.
5 ____. Voltei. Pelo Espírito Irmão Jacob. 28. ed. 7. imp. Brasília: FEB, 2013. p. 174.

 

Fonte: FEB - Federação Espírita Brasileira

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