Sesquicentenário do livro O céu e o inferno (1865-2015)

A partir de meados da década de 1850 e durante toda a década seguinte, a humanidade foi brindada com uma invasão organizada do plano espiritual, se assim nos podemos expressar, trazendo até nós um celeiro de luzes que foi observado, analisado e codificado pela mente lúcida e inteligente do missionário lionês Allan Kardec, cujo bom senso está comprovado em suas opiniões, eivadas, todas, de critério, prudência e respeito à liberdade.

Naquele período, exatamente em 1º de agosto de 1865, a quarta obra da Codificação espírita vinha a lume para esclarecer a todos, indistintamente, questões e temas que, muito embora já fossem conhecidos, só então seriam abordados com sabedoria, objetividade, clareza e lucidez, características que distinguem os escritos do Codificador da Doutrina. Tratava-se, nada mais, nada menos, do que o desdobramento da quarte parte de O livro dos espíritos, base fundamental do Espiritismo.

O livro O céu e o inferno ou a Justiça divina segundo o Espiritismo faz um exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual, trata das penalidades e recompensas futuras, aborda a questão dos anjos e demônios, bem como das penas eternas, complementando com numerosos exemplos a situação real da alma durante e depois da morte.

Após o advento dessa obra, a humanidade tem à disposição uma visão da morte, do céu, do inferno, do purgatório, das penas e gozos futuros bastante diferenciada daquela até então conhecida, derrubando o receio, o medo e a incerteza que ainda domina boa parte dos seres humanos sobre esses assuntos.

Logo no Prefácio do livro o Codificador esclarece:

O título desta obra indica claramente o seu objetivo. Nela reunimos todos os elementos destinados a esclarecer o homem quanto ao seu destino. Como em nossas publicações anteriores sobre a Doutrina Espírita, nada colocamos neste livro que seja produto de um sistema preconcebido ou de concepção pessoal, que, aliás, não teria nenhuma autoridade. Tudo foi deduzido da observação e da concordância dos fatos.¹

O livro O céu e o inferno veio encher de esperança os desesperançados, descortinar um porvir de perspectivas, trabalho e progresso, derrogar o nada ou o fim de tudo com a morte, esclarecer com lógica incomparável a Justiça divina, demonstrar que as responsabilidades dos atos e ações são do seu executor, e desvendar o véu para um futuro promissor que possibilita à criatura o progresso inexorável.

Ainda no Prefácio, Allan Kardec presta esclarecimentos sobre a estrutura e o conteúdo do livro, ao afirmar:

A primeira parte desta obra, chamada Doutrina, contém o exame comparado das diversas crenças sobre o céu e o inferno, os anjos e os demônios, as penas e as recompensas futuras. O dogma das penas eternas é aí tratado de maneira especial e refutado por argumentos colhidos das próprias leis da natureza, leis que demonstram, não só o seu lado ilógico, centenas de vezes já assinalado, como a sua impossibilidade material. Com as penas eternas, caem naturalmente as consequências que se acreditavam tirar de tal doutrina.

A segunda parte encerra numerosos exemplos que sustentam a teoria, ou melhor, que serviram para o seu estabelecimento. A autoridade deles se baseia na diversidade dos tempos e dos lugares onde foram obtidos, porquanto, se emanassem de uma fonte única, poder-se-ia considerá-los como produto de uma mesma influência; baseia-se, além disso, na sua concordância com o que se obtém todos os dias, seja onde for que as pessoas se ocupem das manifestações espíritas, encaradas sob um ponto de vista sério e filosófico. Tais exemplos poderiam ser multiplicados ao infinito, visto que não há Centro Espírita que não possa fornecer um notável contingente deles.²

No que diz respeito ao porvir, o livro O céu e o inferno Agosto de 2015 | Reformador 7 453 retrata a visão espírita sobre o futuro da alma, estabelecendo um código penal da vida futura com base na observação de fatos, e não na formulação de um código de fantasias, lançando por terra o medo, o receio e a dúvida sobre o que nos espera além da morte do corpo físico.

Amplia a compreensão sobre o estado feliz ou infeliz da criatura, já que tal estado é inerente ao seu grau de depuração ou de imperfeição.

Faz-nos entender a Justiça divina, infinita em sua perfeição, esclarecendo que a cada um será dado segundo suas obras, que as imperfeições acarretam sofrimentos inenarráveis e que as qualidades boas são fonte de gozo e felicidade.

Abre a todas as criaturas, indistintamente, as portas para o futuro, possibilitando o progresso, a oportunidade de reconhecer os equívocos e de repará-los, desde que imbuídas do sentimento sincero de prosseguir evoluindo.

O céu e o inferno, após as revelações emanadas de Espíritos que vieram até nós para trazer o tributo de suas luzes, já não estão restritos a espaços segmentados, estanques, limitados, onde o fogo escaldante e as figuras demoníacas se fazem presentes em toda parte, porque céu e inferno estarão sempre conosco, dependendo da frequência vibratória em que estagiamos.

Apesar de transcorrido tanto tempo – 150 anos – a obra O céu e o inferno ainda é pouco lida e estudada entre os próprios espíritas. Esperamos que, estimulados pelas comemorações do seu sesquicentenário, desperte ela maior interesse junto aos que ainda a desconhecem, a fim de que a leiam, estudem e compreendam a Justiça divina tal como o Espiritismo no-la apresenta, e que tem na lei de justiça, amor e caridade o seu alicerce, por ser ela misericordiosa com todos indistintamente.

Aproveitemos, pois, o sesquicentenário de O céu e o inferno para intensificar a construção do nosso céu interior, exemplificando as lições do Evangelho de Jesus, a fim de que nossas obras possibilitem, na Terra como no Céu, a colheita da felicidade que tanto almejamos, possível tão só pelo dever fielmente cumprido, porquanto, como estabelece a Justiça divina, a cada um será dado conforme suas obras.

Jorge Godinho Barreto Nery
jgodinho@febnet.org.br

Referências: 

1 N.R.: KARDEC, Allan. O céu e o inferno. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013. p. 9.

2 N.R.: ____. ____. p. 11.

 

Fonte: O Reformador

 

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